Yanomami de nove aldeias de Roraima estão contaminados por mercúrio, aponta Fiocruz

Por: Redação | Foto: Ensp/Fiocruz


Indígenas Yanomami de nove aldeias localizadas na região do Alto Rio Mucajaí, em Roraima, estão contaminados por mercúrio, alerta pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz. Os resultados, divulgados nesta quinta-feira (04), mostram maiores índices de exposição em comunidades mais próximas aos garimpos ilegais de ouro, atingindo principalmente mulheres grávidas e crianças.

O estudo foi realizado em outubro de 2022, quando foi coletado amostras de cabelos de 300 indivíduos de diferentes idades, incluindo crianças e idosos. Conforme os pesquisadores, das 287 amostras examinadas, 84% registraram nível de contaminação acima de 2,0 µg/g (micrograma) e 10,8% apresentaram mais de 6,0 µg/g, considerados índices altos. A concentração tolerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de até um micrograma por grama.

Nas duas situações, há necessidade de notificar os casos ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), a fim de se produzir estatísticas oficiais sobre o problema na região para criação de políticas públicas pelo através do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A contaminação por mercúrio pode causar sérios problemas à saúde. Foram identificados doenças como anemia, desnutrição e, em indígenas com níveis mais elevados do metal no organismo, déficits cognitivos e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência. Mais de 80% disseram ter tido malária pelo menos uma vez na vida, com média de três contaminações por indivíduo.

Nas crianças de até 11 anos, o estudo apontou que mais de 80% apresentaram déficit na altura para idade, indicando desnutrição crônica, e mais da metade com desnutrição aguda, além de anemia em mais de 25% delas. Outro dado que chamou atenção foi a baixa cobertura vacinal: apenas 15,5% estavam com as vacinas do calendário nacional de imunização em dia. 

Crianças que nasceram aparentemente saudáveis mostraram desenvolvimento intelectual comprometido, muitas apresentando inteligência consideradas limítrofe, mediana ou inferior. Em testes de Quociente de Inteligência (QI) adaptados à cultura indígena, a média ficou em 68, valor médio geral abaixo do previsto, que é de 100. Apenas uma criança teve QI considerado mediano em uma das aldeias estudadas.

“Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crônica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos”, explica o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Ensp/Fiocruz. 

Em relação às mulheres gestantes, os danos podem ser ainda mais graves, podendo levar ao aborto ou causar lesões no cérebro tanto da mãe quanto do bebê, além de anomalias funcionais ou estruturais no desenvolvimento do feto, como malformação congênita.

Confira o estudo completo aqui.

Entitulado “Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente“, os trabalhos foram conduzidos pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e apoio do Instituto Socioambiental (ISA).

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